A aceleração do IPCA em maio e a análise da composição do indicador no mês reforçam a tendência de que o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompa na semana que vem o ciclo de queda de juros. Além do indicador principal ter vindo acima da mediana das projeções, a piora em alguns núcleos e a manutenção das incertezas no cenário externo contribuem para essa projeção.
“Para o BC, é uma leitura que reforça nosso cenário de que o BC deve interromper o ciclo já na próxima reunião, pelas incertezas que se acumulam. O IPCA, com uma composição mais desafiadora, acaba por reforçar essa visão”, explica um economista da XP, que prevê uma decisão de Selic estável em 10,5% na próxima reunião do comitê.
Uma economista do C6 Bank comenta que o resultado de maio foi puxado, principalmente, pelos preços dos alimentos, impactados pelos efeitos da chuva no Rio Grande do Sul, grande produtor de grãos, como arroz, soja e milho. Mas ela lembra que não foram só os alimentos que pesaram no IPCA de maio.
“A inflação de serviços e de bens industriais também vieram pior do que o esperado. A inflação de serviços subjacentes, aquela acompanhada mais de perto pelo Banco Central, acumula uma alta de 4,8% em 12 meses e segue sem sinais de desaceleração”, explica.
Ela destaca que esse segmento é pressionado pelo mercado de trabalho aquecido. “Com o desemprego baixo para os padrões brasileiros, os empresários reajustam salários acima dos ganhos de produtividade, pressionando a inflação de serviços, um setor intensivo em mão de obra. Essa dinâmica já vem ocorrendo há vários meses e deve continuar à frente”, analisa.
A economista afirma que a resiliência da inflação de serviços corrobora a visão de que não há mais espaço para o Banco Central cortar juros neste ano, com uma projeção de alta de 4,7% para o IPCA de 2024 e taxa Selic estável em 10,5% até o final do ano.